I Colóquio Internacional (Des)memória de desastre – 1ª chamada

"Mirada Azul", José Zyberchema (2010)  Fotografia da série "Andar a pé em direção ao futuro"

“Mirada Azul”, José Zyberchema (2010)
Fotografia da série “Andar a pé em direção ao futuro”

No âmbito das actividades académicas e culturais promovidas pelo projecto “(Des)Memória de desastre? Cultura e perigos naturais, catástrofe e resiliência. Madeira, um caso de estudo” (DMDM), este colóquio terá lugar entre os dias 18 e 19 de Outubro de 2013, no Funchal. O DMDM é um projecto associado ao CECC (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa) e, na organização deste evento, conta com o apoio do CIERL (Centro de Investigação de Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira).

“Reportando-se ao polémico conceito de risk society, que, sobretudo com a década de 1990, viria a assumir um lugar axial no seu pensamento sobre a modernidade reflexiva em que vivemos, Ulrich Beck, mais recentemente, chama a atenção para o impacto que “the public dramatization of risks” assume na imaginação cultural do mundo globalizado de hoje, notando ainda a implicação destes factores na nossa vida quotidiana, seja em questões de ordem socio-ecológica, (bio)política, económica ou tecnológica, seja em questões de ordem psicológica, epistemológica ou até artística (Beck, 2012: 6). Habitante de um mundo dessacralizado, cujas fronteiras cada vez mais se foram tornando porosas, um mundo que passa a ser experienciado como realidade em mutação acelerada, dominada pela instabilidade e liquidez (Baumann, 2000), o sujeito moderno, apanhado, também por isso, numa “tidal wave of memorial concerns”, como sublinha Pierre Nora (2002: 1), assume-se, ainda na perspectiva de Beck, como figura central e (ir)responsável na construção do seu sistema eco-sócio-cultural. Nesta medida, riscos e desastres são imputáveis à própria acção humana, às escolhas e decisões tomadas por indivíduos e instituições, tendo em consideração experiências do passado e perspectivas quanto ao futuro. Para Ulrich Beck (2012: 8) mais ciência/conhecimento não significa, necessariamente, mitigação dos riscos; antes significa conceder a esses riscos uma maior visibilidade (de forma nem sempre crítica e rigorosa), tornando assim mais aguda a sua percepção.
Entendida como um processo complexo, sujeito a manipulações de diversa ordem e determinado, de acordo com Gisela Wachinger e Ortwin Renn (2010), não apenas pelo conhecimento formal ou empírico, mas ainda por outros factores (experiências e expectativas; valores, modelos mentais e imaginários; atitudes e interesses; afectos e emoções; contextos sócio-culturais; etc.), a percepção do risco é hoje considerada um processo-chave na tomada de decisões em situação de (risco de) desastre (Alexander, 2011: 9) e, por conseguinte, na construção quer de vulnerabilidades, quer de resiliências.
Neste quadro, e pensando os desastres enquanto fenómenos multidimensionais, decorrentes da exposição a diversos perigos (inundações, sismos, erupções vulcânicas, guerras, atentados terroristas, acidentes nucleares, etc.) e, sobretudo, enquanto eventos extremos que denunciam, como nota Enrico Quarantelli (2005), falhas no funcionamento dos sistemas eco-socio-culturais, o I Colóquio Internacional “(Des)Memória de desastre” propõe-se como espaço de debate académico e cívico, onde seja possível interrogar as implicações existentes entre memória/esquecimento (individual ou cultural), percepção de perigos, gestão de riscos e experiência de desastres em diversos contextos geo-culturais.
Não negligenciando abordagens centradas no estudo dos perigos (naturais, tecnológicos e outros), pretende-se, no entanto, que este encontro analise os fenómenos de desastre na sua mais densa complexidade, numa perspectiva multidisciplinar e que não se circunscreva às ciências tecnológicas e da natureza, abrindo-se também à colaboração de outras áreas disciplinares. Se, como nota Anthony Oliver-Smith (2004: 11), até mesmo os desastres naturais devem ser estudados enquanto fenómenos suscitados pela intersecção de factores naturais com factores humanos e culturais, sendo por isso necessário ter em consideração, para a sua análise, não apenas o que nos ensinam as ciências naturais e tecnológicas, mas também a antropologia, a economia, a história, a psicologia, a sociologia, os estudos de cultura e outras áreas afins, em sentido inverso será legítimo indagar sobre a relevância que o estudo dos desastres poderá assumir quer para o estudo da psicologia humana, quer para o estudo dos universos históricos e sócio-culturais que experienciam esses fenómenos extremos”.

Assim, o I Colóquio Internacional “(Des)Memória de desastre” convida à apresentação de propostas de comunicações (20 minutos), centradas preferencialmente nas seguintes pistas de reflexão:

. A arte do desastre e ways of worldmaking: representações literárias, performativas e visuais de desastres e a construção da memória cultural desses eventos;
. Cultura(s) de desastre e sociedades resilientes: o papel da escola, dos arquivos, dos museus e de outras instituições culturais na construção da memória de desastre e da percepção do risco;
. Cruzando olhares: o discurso do Eu e do Outro na narrativa de desastre;
. Desastres, arte e mitigação dos riscos;
. Desastres e (bio)política: memória cultural, conflito e poder;
. Desastres e religião: discurso do apocalipse e/ou discurso para a resiliência;
. Desastres, memória e economia: do dano à oportunidade de desenvolvimento de modelos de sustentabilidade;
. Desastres, ruínas e arqueologia: a memória de desastre inscrita no tempo e no espaço;
. Desastres, turismo e desenvolvimento: perspectivas em análise;
. (Des)Memória de desastre e construção identitária: a narrativa do desastre e a narrativa da nação;
. (Des)Memória de desastre, percepção socio-cultural do risco e vulnerabilidade aos perigos naturais;
. Gestão e governação do risco de desastre: o papel da memória nas políticas e nas acções de gestão de risco e de emergência
. Ilhas e insularidades vulneráveis: memória e/de desastres;
. Memória de desastre, luto e trauma;
. Memória de desastre e engenharia
. Palavras que dizem (a memória de) os desastres: toponímia e abordagens sociolinguísticas;
. Planeamento e ordenamento do território: a memória do/no espaço e as estratégias para a redução de riscos de desastre;
. Representação de desastres, sua (re)mediação e difusão no mundo globalizado: (novos) media e construção/apagamento da memória de desastre.

Calendário e submissão de propostas:
As propostas de comunicações (com o máximo de 20 minutos) e/ou de painéis deverão ser encaminhadas para o endereço electrónico do colóquio (desmemoria_de_desastre_2013@sapo.pt) até 30 de Junho de 2013. No documento enviado deverão constar os seguintes elementos: título da comunicação; resumo (200 palavras); nome(s), contacto(s) e afiliação académica do(s) oradore(s) proponente(s); breve nota bio-bibliográfica, onde constem as suas principais áreas de interesse e investigação (100 palavras).

A notificação das propostas aceites pela Comissão Científica do colóquio terá lugar até 31 de Julho de 2013.
As línguas de trabalho do colóquio serão o português, o inglês, o espanhol e o francês.

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